Diversas são as frentes do combate ao novo coronavírus. E, no último dia 8 de maio, pesquisadores do Brasil inteiro contaram com mais um aliado para acelerar a procura de uma vacina ou medicamento para chegar o mais rápido possível em uma solução para essa pandemia.
Esse aliado é o supercomputador Santos Dumont, localizado em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Para comentar sobre, o Podcast Ideias do Soares chamou o pesquisador do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), Luiz Gonzaga, um dos responsáveis pelo Santos Dumont, para comentar sobre o assunto.
Confira a entrevista na íntegra a seguir ou é só dar play e ouvir a entrevista no podcast Ideias do Soares
Esse mês o LNCC liberou o acesso ao supercomputador Santos Dummont para ajudar no combate ao novo coronavírus, qual é a importância desse acesso para a ciência?
Luiz Gonzaga: O enfrentamento do Sars Cov 2 envolve diferentes frentes de luta. Ao lado do que é mais importante, que são os hospitais, onde os diferentes profissionais de saúde atendem aos pacientes outras batalhas são necessárias. Precisamos entender como esse coronavírus se espalha, como ele nos ataca, por que em alguns pacientes ele é totalmente assintomático e outros são levados a óbito. Como nos proteger para impedir a contaminação, como nos tratar quando estamos doentes e etc.
Por exemplo, na busca de um fármaco (remédio) é, do ponto de vista computacional, muito cara pois precisa de muitas horas de processamento para avaliar se uma molécula contém potencial de agir contra o vírus ou não. Essa busca pode, usando o grande poder computacional do Santos Dumont, ser realizado em dezenas e centenas de moléculas em poucas horas.
Assim, muitos cientistas de diferentes áreas podem processar os seus problemas e rapidamente obterem respostas que alavanquem diferentes pesquisas relacionadas a Covid-19.
Como funciona um supercomputador e como ele pode ajudar no processamento de dados de pesquisas?
Luiz Gonzaga: A ideia básica para a construção de um supercomputador é se colocar vários computadores cada um com a capacidade de processamento semelhante a um computador que temos na nossa mesa de trabalho operando ao mesmo tempo na solução de um problema. Simplificando muito, dividimos o mesmo problema em pedaços menores e colocamos cada computador que compõe um supercomputador para processar um desses pedaços e depois juntamos cada resultado para compor a reposta para o problema inicial.
Com isto, em um intervalo de tempo muito menor, conseguimos resolver o problema que, se fosse processado, tratado em um computador comum, demoraria semanas, dias, meses e até mesmo anos para se obter uma resposta. Para testar a capacidade de um supercomputador, o Santos Dumont equivale a dezenas de milhares de computadores funcionando ao mesmo tempo.
Qual é o seu papel dentro do LNCC? Houve alguma mudança na rotina com a pandemia do novo coronavírus?
Luiz Gonzaga: Na nossa equipe temos biólogos, matemáticos, estatísticos e cientistas da computação. A minha área de formação é a computação e há 20 anos eu trabalho no Laboratório de Bioinformática, um grupo de pesquisa do Laboratório Nacional de Computação Científica, unidade de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia, onde está localizado o computador Santos Dumont. Eu utilizo a computação para a construção de ferramentas que analisem dados de natureza biológica, por exemplo, a sequência de um DNA que compõe o genoma de um vírus.
A principal mudança na rotina é que agora nós estamos trabalhando em nossas residências desde o dia 23 de março. Antes eu dividia o meu tempo em diferentes projetos e desenvolvimento de programas e análise de dados. E, nesses últimos dois meses, estou integralmente dedicado a análise do genoma do Sars Cov 2. sequenciados no LNCC e na adaptação ou construção de ferramentas para projetos relacionados ao enfrentamento da Covid-19. Na prática, hoje, eu e meus colegas estamos trabalhando muito mais do que em condições normais.
Quão importante você acredita que seja o investimento em supercomputadores e quais são as perpectivas de investimento pós-pandemia?
Luiz Gonzaga: O investimento em supercomputadores tem que ser contínuo. O supercomputador Santos Dumont, quando foi adquirido em 2015, estava entre os maiores do mundo caindo de posição ano a ano. Após quatro anos, recebeu investimentos e voltamos a figurar novamente entre os maiores não se trata apenas de ter visibilidade na lista dos maiores computadores isso seria uma tola vaidade pois sendo uma ferramenta poderosa que auxilia aos cientistas a responder de maneira mais poderosa de resolver aos problemas em uma situação de grave crise como a que estamos vivendo podemos agir com maior presteza (rapidamente) e atender a sociedade.
Espero investimentos não somente em equipamentos e, mais ainda, em recursos humanos sejam retomados e mantidos de forma contínua como estamos demonstrando dia a dia que sem a abordagem científica não podemos entender os problemas que se colocam em encontrar soluções.
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